Participei da III Jornada para Educação Étnico Raciais no Museu de Arte do Rio, teve duração de três dias. Assisti várias apresentações de comunicações de professores e pesquisadores com o tema, todas enriquecedoras.
Nessa postagem vou destacar a apresentação da professora do Instituto Federal do Maranhão Liliam Teresa Martins Freitas, graduada em Pedagogia pela UEMA, especialista em Cultura Afro-brasileira pela Faculdade Internacional Signorelli, Mestranda em Educação pela UFF. Ela apresentou parte de sua investigação de mestrado intitulada: “A (in) visibilidade de crianças negras em uma instituição de educação infantil".
Ela esteve em várias escolas em Codó, no Maranhão, fazendo suas investigações e fotografou diversos murais escolares. A conclusão que chegou foi que para alguns professores, coordenadores e diretores as crianças negras são invisíveis. As paredes das escolas não retratam todas as crianças que estão lá. O que a ajudou chegar nessa conclusão foram às respostas dadas por esses profissionais "nunca percebi", entre outras respostas de mesmo sentido.
Se a escola está cheia de alunas e alunos negros como ninguém percebeu? Comecei a lembrar de escolas que já estudei, estagiei ou trabalhei. Eu e todos os alunos iguais a mim passamos despercebidos por lá. Tem professor que acha desnecessário esse tipo de observação, mas vale lembrar que é justamente a falta de representatividade nas escolas e TV que faz as atitudes racistas se arrastarem pós-abolição. Se negar a incluir todas as etnias e a mistura que compõe o povo brasileiro pelas paredes das escolas, com desculpa que "criança não liga pra isso" é ser omisso ou conivente ao racismo.
Como dizer por aí "somos todos humanos", "somos todos iguais" e se recusar a combater a desigualdade ao mesmo tempo? Falar para uma criança ignorar o que disseram de ruim a ela só faz alimentar o racismo. Isso se chama dar razão ao racista, essa atitude fará com que ele cresça achando que tem o direito de ofender, e que o outro terá sempre a obrigação de superar. Fazer com que a criança que sofreu o ataque, encontre forças sabe lá de onde para superar faz com que ela pense que tem algo errado com ela, e todos sabemos que não. E escola não é lugar de incentivo ao crime.
Não fazer a criança negra se ver no local que estuda e se sentir parte dele, atrapalha a criança a fazer seu autorretrato. Quando for solicitado que desenhe a si mesma, ela vai se desenhar de pele branca ou rosada (não existe ninguém cor de rosa só a Pepa), e depois o professor terá a coragem de dizer para os colegas que o aluno "tal" é racista com ele mesmo, sem enxergar a contribuição que deu para essa situação. Já escutei essa besteira no trabalho.
Em uma escola em Minas Gerais um aluno da Educação Infantil se cobriu inteiro de pasta de dente, pois não queria ser negro. Agora pense: como uma criança vai construir sua identidade em um local que diz o tempo todo que ela é invisível? O professor e a escola não têm culpa do que aparece na mídia, mas dentro de sua escola e sala de aula pode fazer a diferença com ações simples, mesmo dentro da correria que acontece no decorrer das aulas.
Vamos analisar alguns murais que encontrei pela internet, da mesma forma que foi feito na apresentação da professora Liliam. Logicamente que os locais que os produziram não possuem responsabilidade alguma, pois fazem aquilo que seus clientes professores, coordenadores e diretores encomendam. Quando passarem a solicitar personagens negros eles o farão.
Murais de boas vindas
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imagem: marcelacristinablogspot |
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imagem: redenovaescolaclube.org.br |
Murais de aviso no banheiro
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Murais da creche
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Mural do Dia das mães
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imagem: dessiral |
Mural do Dia das Crianças
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imagem: atividadeseducaçãoinfantil |
Mural do Dia dos professores - Se for a própria professora que fez retratando ela mesma, não tem problema, mas se for homenagem da escola para suas funcionárias é péssimo. No caso abaixo essa professora só ensina para alunos brancos, assim diz o mural.
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imagem: Semect Caldas Novas Go |
Mural de Natal
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imagem: classeo2doaraporanga |
Lembrancinhas
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Bom, concluímos que em todas essas escolas não tem alunos negros, ninguém percebe a presença deles lá. Pra quem pensa que a Educação sempre funcionou sem precisar desse tipo de observação, resposta: Pensar assim é uma herança escravocrata. Herança do tempo que existiam leis proibindo a presença de negros na escola.
Nenhum educador pensa assim eu acredito. Quando fez isso foi por costume. Então vamos mudar e acabar com esse costume! Vamos analisar bons murais que achei na internet:
Murais ideais
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Google imagens |
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Essa é uma forma simples de trabalhar Educação para Relações Étnico Raciais na escola. Nem sempre é preciso falar, basta representar. Falar da criança negra somente no folclore e na semana da Consciência Negra é o mesmo que dizer a ela que sua presença nas escola só é bem vinda apenas nas datas comemorativas.